Crowdfunding: Aventuras em África transformadas em documentário
Muitos projetos de jornalismo têm recorrido ao crowdfunding, procurando financiar-se através de plataformas colaborativas online. Alguns têm atingido o sucesso. Foi o caso de três repórteres portugueses que conseguiram apoio para realizar um documentário sobre as aventuras que viveram em África.
O crowdfunding, que nasce da palavra crowd (multidão) e funding (financiamento), tem permitido realizar sonhos com a divisão do esforço monetário por muitos. O Portuguese Entrepreneurs conversou com o jornalista Tiago Carrasco que, em conjunto com o fotógrafo João Henriques e o repórter de imagem João Fontes, colocou em marcha um documentário com a ajuda do financiamento coletivo.
Tudo começou quando o grupo se lançou à descoberta de África, traçando a partir do futebol o perfil de vários países africanos. Da viagem surgiu o livro “Até lá abaixo: 3 homens, 1 jipe e 150 dias de aventura em África”, publicado em 2011. Da vontade de transformar as palavras escritas num documentário nasceu a iniciativa de crowdfunding, através da qual conseguiram atingir o financiamento pretendido.
«Foi uma operação de sucesso, que não paga completamente a edição como gostaríamos, mas conseguimos 3000 e tal euros, descontados os impostos», explica Tiago Carrasco, que justifica a demora na conclusão do documentário com o facto do limite de dinheiro estipulado para o crowdfunding não financiar o projeto na totalidade.
“O documentário encontra-se numa fase muito avançada da edição, perto do fim, mas como só podemos trabalhar nos intervalos deixados pelas nossas atividades profissionais, o processo desenrola-se muito lentamente. Contamos finalizá-lo no final deste ano ou em 2017”, acrescenta.
Quando tinha 27 anos, a vontade de deixar o jornalismo de secretária falou mais alto e o jovem decidiu que o seu lugar era a contar histórias no terreno. «Não estava preenchido, aquilo que ganhava era muito pouco, não dava para aspirar à estabilidade e ao nível profissional não estava a fazer o que tinha sonhado que era o jornalismo internacional e reportagens de fundo», explica Tiago Carrasco.
À chegada à África do Sul o jornalista descobriu que estava “viciado em liberdade” e que precisava de obstáculos para se sentir motivado. A escolha de correr atrás dos sonhos revelou-se acertada.
Com o Mundial de 2010 na mira, os três amigos decidiram que haviam de partir de Lisboa, de carro, até à África do Sul. “Sem qualquer prova dada”, como sublinha Tiago, começaram a bater de porta em porta à procura de patrocínios ou de um meio de comunicação que estivesse na disposição de comprar o trabalho. Não foi fácil, ouviram muitos “nãos”, mas acabaram por conseguir que o jornal Record adquirisse reportagens semanais e a Galp cedesse o dinheiro para o jipe. “Foi a melhor viagem da minha vida”, diz o jornalista, mas o ritmo de trabalho foi muito elevado. “Não folgámos durante cinco meses”, de Janeiro a Junho de 2010, quando aconteceu esta viagem por África.
As experiências que viveram foram muito fortes. “Convivemos com crianças com poliomielite no Congo que faziam as suas próprias próteses para jogar futebol e visitámos o maior bairro de lata de África em Lagos (Nigéria), com três milhões de pessoas”, explica.
Os repórteres investiram algum dinheiro próprio, mas com o livro que nasceu da aventura conseguiram colocar «a perda monetária muito próxima do zero». Para o documentário decidiram lançar uma campanha de crowdfunding na Ifundnews, uma plataforma portuguesa de jornalismo financiada pelos leitores, com o objetivo de contribuir para a investigação e trabalhos jornalísticos de qualidade.
«Qualquer pessoa no Facebook pode lançar uma página para angariação de fundos, mas a utilização de uma plataforma com prestígio é importante por causa da credibilidade. Vivemos muito do que no crowdfunding se chama os três F’s: Family, Friends and Fans. A ajuda surgiu principalmente daqui», adianta Tiago Carrasco.
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