23 Mar 2014

Makearevolution. Kits de arte para fazer a revolução!

ionline.pt/, 2014-03-22

Encontrámos pela primeira vez António Caramelo na Feira Morta do Centro Comercial Imaviz, em Lisboa, mesmo a tempo do Natal. Enquanto uns vendem sacos de pano, roupa em segunda mão e discos que devem ter passado por mais do que quatro mãos, António tem a banca mais caricata da feira: Vende pedras da calçada. E não são umas pedras quaisquer. Forradas a folha de prata, estão carinhosamente embaladas num “kit revolução” com um autocolante onde se lê “Makearevolution”, provavelmente à espera da próxima manifestação em frente à Assembleia ou de uma mais pacata secretária de casa, onde dariam bons pisa-papéis. Ao lado das “charming stones”, como António lhes chamou, estão outros kits de revolução com todos os ingredientes de um cocktail molotov desmembrado. Revolução em forma de presente? Também, mas aqui estamos a falar de arte e, por isso, os kits fazem mais sentido numa galeria do que numa feira.

O projecto do artista e professor António Caramelo começou com uma plataforma online – www.makearevolution.org – onde os cibernautas partilhavam as suas frases de revolução em várias línguas e acabou em kits de revolução que incluem pedras, cocktails molotov e capacetes. “Estou na rua e não me calo” é um dos exemplos de uma das frases ao acaso enviadas para o site. Mas também há a mais lynchiana “Fire walk with me”. As frases foram pintadas em cartazes e desfilaram pelas ruas de Tavira em 2012 numa “manifestação silenciosa”, o início do projecto, explica António.

O vídeo da manifestação silenciosa é uma das peças da exposição “Nós” e pode ser visto na galeria Plataforma Revólver, em Lisboa. A exposição colectiva inclui também os tais curiosos kits de revolução, desta vez expostos em vitrinas, como boas peças desta “linha de luxo para fazer a revolução”. O projecto de António não se quer juntar a nenhuma ideologia, “à esquerda ou à direita ou ao centro”. O objectivo é mesmo “estetizar estes objectos, acabando por lhes retirar o conteúdo político”. António diz que os seus kits devem incluir novas peças no Verão. “Peças que se usam do lado de cá da barricada e que não é possível comprar cá, mas que se adquirem através da Internet.” É esperar para ver noutras exposições.

Para já, na “Nós” podem ser vistos também os trabalhos de artistas como João Fonte Santa, Garcia da Selva, Inez Teixeira, João Belga, Mafalda Santos, Margarida Dias Coelho, Maria do Rosário Maia, Paulo Mendes, Pedro Bernardo, Rodrigo Cotrim, São Trindade, Sara & André ou Susana Gaudência. Há cartazes políticos com a cara de Merkel numa publicidade da “Vache qui rit”, há notas falsas para levar para casa, resultado de uma proposta para o regresso do escudo, e também há a bandeira de Portugal com as cores da Alemanha.

A exposição conjunta pediu o nome emprestado a uma obra do soviético Yevgeny Zamyatin que serviu de inspiração para “1984”, de George Orwell, e pode ser vista até 2 de Maio.

Fonte: http://www.ionline.pt/artigos/mais-lifestyle/makearevolution-kits-arte-fazer-revolucao/pag/-1

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